Toda mãe deveria mostrar aos seus filhos que o amor que sente por eles é diferente. Todo pai também. Sim, eu sei: essas palavras incomodam. Pensar nisso pode fazer uma espécie de aperto surgir no peito junto com as perguntas: Afinal, pode uma mãe amar seus filhos de modo diferente? Não é o amor de mãe infinito e incondicional? Não é nocivo amar os filhos, a cada um, de um modo diferente? Vamos com calma.
O amor de mãe ou de quem exerce sua função é simplesmente a forma de amor mais essencial de todas. Sem ela, nós sequer nos constituímos – e existem muitos estudos sobre privação afetiva que comprovam isso. Este amor é essencial à vida e à estruturação do aparelho psíquico, e existem várias razões para isso.
Além disso, este amor é fundamental para o desenvolvimento psicológico, emocional e social. É através deste amor que o mundo vai sendo introduzido.
Mas e quando existe mais de um filho na cena?
Uma das primeiras perguntas a assombrar os pais que frequentam meu consultório é que demonstrar alguma diferença poderia ocasionar alguma forma de dano. E eles tem toda razão: descobrir que a mãe ama outro além de si é a própria definição de dano narcísico. Mas este é um dano essencial. Sem ele, não podemos alcançar o amadurecimento.
Saber que a mãe tem outros interesses é importante. As pessoas têm interesses variados e não apenas em você. Saber que ela ora deseja, ora não, também. Ninguém vai estar disponível em sua integralidade o tempo todo.
Também temos o problema da diferença: ser tratado numa uniformidade não é bom para a autoestima, para o autoconhecimento e nem para o desenvolvimento. Isso porque esta é uma forma de amor que aniquila justamente o que temos de mais precioso: a diferença. Ao deixar de reconhecer isso, deixa de produzir ou sublinhar importantes traços de identidade.
Os filhos precisam ser amados por quem são. E, se você tem mais de um filho, sabe que eles são diferentes – e tudo bem! É normal que se tenha mais afinidade com alguns aspectos de um e outros de outro. É normal que se tenha um relacionamento diferente e isso está longe de ser diminutivo. Quando essa diferença é usada para engrandecer, ela se torna saudável e reflete em autoconhecimento, auto-aceitação e engrandecimento.
O amor existe apenas no singular. Ele é sempre diferente. Não pode ser medido ou comparado. O amor de verdade sobrevive à diferença e não busca torná-la invisível.