Sem dúvidas, existem muitas formas de amar. O amor vêm em muitas cores, gêneros e números. E, embora possa ser tão diferente, será que, para ser amor, é preciso que se torne sacrifício?
O amor parte de uma falta. A psicanálise é mister, nesse sentido, em descrevê-lo: a falta é o motor do desejo. Sem ela, não há amor. O desejo de união, portanto, parte da fantasia e busca pela completude.
Logo, existe certo desconforto que marca a experiência de amor.
Por outro lado, algumas experiências afetivas são caracterizadas por um extenso sofrimento e uma prerrogativa de que, para que de fato possa ser chamado de amor, precisa aceitar e perdoar tudo.
Mais do que isso, para algumas pessoas, quanto mais se aceita e mais se sofre, maior o amor.
Esta, na verdade, é uma forma negativa de amor – ou anti-amor, se preferir.
O anti-amor se baseia em um sobre o outro, na imposição, na dominação e no controle excessivos que reduzem uma parte do par a uma pouca ou quase nula existência subjetiva. O anti-amor devora um membro da dupla, fazendo-o desparecer ou quase desaparecer. Ele impede que o outro exista por conta própria; aniquila seu brilho e, na verdade, morre de medo dele, pois é fundado na insegurança.
Ele supõe que apenas a entrega integral pode ser chamada de amor e parte do princípio que fazendo o outro completo, ainda é uma forma de estar na completude. Esse amor busca inscrever sua importância sempre para o outro, por isso cobra um caro preço.
Todo amor nasce do narcisismo – nosso desejo de ver a nós mesmos numa imagem completa. Porém, para que possa ser chamado de amor, ele precisa amadurecer. O amor maduro sabe que a diferença é o que engrandece, portanto, se nutre dela, da liberdade e do respeito. Ele aprendeu a atravessar o abismo da dúvida e da insegurança, mas não apagando-os: ele construiu a confiança.
Um outro mito é de que o amor é sempre feliz, sem conflitos e nenhuma pitada de sofrimento. Sendo assim, é puro prazer – nunca o oposto! Para essa forma de amor, qualquer vestígio de frustração é intolerável.
Esse amor deduz que, se não há um exagero de amor, não é amor.
Mas este amor é também aquele que não amadureceu, pois parte do próprio ideal do que é bom e não aceita ser contrariado. Este amor é egoísta e aceita apenas um, portanto, também não pode ser chamado de amor.
Por não aceitar o outro, se empobrece. Deixa de oxigenar. Por isso, precisa sempre buscar mais e não se mantém mais do que algum tempo num relacionamento – mesmo que, para isso, utilize meios escusos.
Portanto, amar é sofrer, sim. Mas é sofrer com medida. É sofrer com respeito. É sofrer com grandeza. Amar jamais é somente sofrer nem, por outro lado, o puro prazer.